terça-feira, 9 de agosto de 2011

A telemensagem


Houve um tempo no ano de 2000 em que diversas formas de comunicação na Web ganharam vulto e com isso as pessoas descobriram uma nova forma de se comunicar e porque não dizer se conhecer.

Sei que muito se fala que as pessoas estão perdendo aos poucos a capacidade de se relacionar, escondidas através do MSN. Skype, Orkut, Facebook, na verdade,   qualquer ferramenta hoje existente. Afirmam que por ser um meio seguro de comunicação, as pessoas se protegem de seus próprios medos e inseguranças, podem por algum tempo ser a pessoa que sonham ser e não aquela com a qual convivem normalmente no plano real.

Eu, por outro lado, penso que se você usar corretamente estes canais de comunicação, ao invés de você criar uma barreira que te protege do mundo real, você cria uma maneira de estreitar distância e permitir a comunicação em tempo real com gente do outro lado do mundo em questões de segundos.

Mas em 2000, de onde surge meu post de hoje, eu estava começando a usar um novo canal de comunicação que era moda na época: O bate papo do site da UOL. Esta verdadeira febre ocupava horas de nossos dias e noites buscando nas salas de Chat, aquela pessoa maravilhosa que escondidas através de um nickname poderia ser a resposta para suas preces.

Estando solteiro, pensei que não faria mal algum conhecer algumas pessoas e sabe-se lá, até uma namorada, por que não? Bem, um belo dia marquei um encontro num shopping de Niterói com uma destas meninas que havia conversado um dia.

Tinha um acordo com um amigo meu que após 15 minutos que chegasse no local ele me ligasse e se a menina não correspondesse àquela descrição da Net ( o que ocorreu 99.99% das vezes) , eu dizia que tinha surgido uma emergência no trabalho e ia embora. Confesso que não é a coisa mais nobre a se fazer, mas muitas vezes era a única alternativa.

Pois bem, cheguei com meu amigo no shopping um pouco antes e fiquei na espreita vendo se a menina chegava para o encontro. Ela havia se descrito como uma morena jambo,  cabelos e olhos castanhos e como fazia medicina viria toda de branco. Além disso, afirmou ter o corpo plenamente torneado pelas horas que ficava na academia.

Estavamos esperando a chegada desta “deusa” , quase uma Grabriela cravo e canela para iniciar meu encontro. Parado mais a frente tal qual um embrulho enorme de bombom (ou um kinder ovo, se você preferir)  estava lá a menina. Respirei fundo, tive vontade de desistir da empreitada, mas como acho chato dar bolo em quem quer que seja, resolvi seguir em frente. Meu amigo, antes de partir, me deu um tapinha nas costas e em tom sarcástico falou : “Bem, é aqui que a gente se separa, boa sorte!”.

Encontrei com a menina, me apresentei e ela ficou encantada comigo. Sentamos num daqueles bancos de meio de corredor e eu esperando pelos 15 minutos combinados com meu amigo. Nunca na minha vida 15 minutos levaram tanto tempo para passar, principalmente porque a menina estava cheia de vontade de me beijar e eu estava imaginando uma maneira de evitar, de forma polida, de ter que dizer não.

Passados 15 minutos, nada do meu amigo ligar. Passam 20, 30 e nada dele dar sinal de vida. Até que de repente ele passa do meu lado, sorriso no canto do lábio, faz sinal de positivo e passa por mim indo em direção a praça de alimentação. Precisei de mais uns 15 minutos até que ele, depois de me torturar, só para pegar no meu pé, resolveu me ligar.

Ao dizer, a menina que tinha de ir embora pude notar seu ar de frustração pelo infortúnio que culminava no término de nosso encontro. Entretanto, antes de irmos embora, descobri onde era a academia onde ela malhava tanto para manter-se naquela forma, no BOB’s. Ela pediu o maior milk-shake de Ovolmaltine que tinha no lugar, pelo amor de Deus....

Bom, dias depois recebo o telefonema da menina para falar comigo e perguntar uma coisa que a estava incomodando. Eis o papo:

Kinder :  Oi tudo bem? Posso te perguntar uma coisa?
EU         : Claro que sim, diga, está tudo bem comigo.
Kinder : Você me achou feia?
EU         : Por que você acha uma coisa dessas?
Kinder : Sabe o que é, normalmente quando tem um primeiro encontro rola ao menos um beijinho.....E vc, sabe, nada....
EU    : Desculpe, é que eu sou meio conservador, de outra geração, acho importante conhecer  pessoa primeiro, antes de me sentir a vontade e beijá-la.

Bom, penso que se a gente acha alguém bonito a reação é espontânea e natural e mais do que isso, se você se questiona se a outra pessoa te acha ou não bonita, na verdade, você já tem a resposta......em todo caso, acho chato fazer comentários desagradáveis até porque gosto é uma coisa muito particular e o que uma pessoa acha bonito, outra pessoa pode não gostar.

Desta forma, achei que com aquele telefonema estava tudo encerrado, mas não, a vida não é assim tão fácil.....

Dia 29/05, recebo um telegrama fonado no trabalho. Música de fundo igual a de motel barato, voz de locutor de rádio, daqueles que fazem tradução de música em inglês.....quase uma declaração de amor..... Depois dessa, aboli encontros virtuais....

Tudo isso e olha que nem dei um beijo....

Um comentário:

  1. Nossa, tudo isso sem dar ao menos um beijo... Que garanhão, hein!? Kkkkkk. Hilária sua história, Marcelo. Essas coisas só com vc mesmo!!! Kkkkkk

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