sábado, 27 de março de 2010

Maria Homeostásia


Cá estou eu aqui de volta. Semana passada estive em um evento em São Paulo e com isso quebrei meu ritmo. Claro que tinha publicado 2 posts e com isso vamos dizer que estamos empatados.

Nos idos de 1986 até 1993, seja por razão de aniversário de minhas colegas de turma, seja em razão de festa das amigas de namoradinhas ou apenas como um momento de desespero para completar o número de casais, eu participei de inúmeros eventos de 15 anos. Como todos sabemos, os costumes de nosso país fazem com que adolescentes coloquem roupas rídiculas, com uma gravatinha das mais esquisitas e dancem valsa.

Meu pai me ensinou a dançar e como devo ter me saido bem, passei a ser chamado continuamente para estas festividades. Os dois amigos acima comigo na foto, James e Marcel, eram meus parceiros desta empreitada, muitas delas promovidas pelas amigas do Marcel. Quando você é durango e com os hormônios em ebulição esta passa ser a combinação perfeita: Festa com meninas e comida de graça.

Um belo dia fomos convidados para uma destas festas e participamos como de costume de alguns treinamentos preliminares. Lá estava uma morena, alta, bonita e burra como uma porta. Para preservar sua imagem, chamemos de Maria Homeostásia (nome singelo criado pelo meu amigo James). Ela era daquelas morenas de arrasar um quarteirão e para nossa sorte foi eleita para dançar com um de meus amigos.

Claro que como era de se esperar, como sou baixinho, nem de perto eu concorri com eles (na dúvida, olhe firmemente a foto). Entretanto, nosso felizardo passou os treinamentos e intervalos preparando o terreno para a abordagem no dia da festa.

Chegado o dia, tinhamos primeiro o evento na igreja (festa de 15 anos é que nem casamento, primeiro aquele blá-blá-blá religioso e depois farra) e lá estava Maria Homeostásia com o dedão do pé enfaixado e inchado como uma bola de bilhar. Todos preocupados fomos sondá-la a respeito do que havia acontecido e travamos o elucidante diálogo:

Marcel : O que foi que aconteceu ?
Maria H: Caiu um pote de vidro no meu pé , quase quebrei o dedo, mas já passou o susto.
Marcelo : Mas não está doendo? como você está aguentando ficar de salto?
Maria H:  É que eu tomei um anaustésico.....
James    : Maria não existe anaustésico ......
Maria H: Verdade, Verdade, me desculpe.....era anastalgésico......

domingo, 14 de março de 2010

O Canalha honesto

Idos de 1988 (lá venho eu de novo com estas histórias tiradas do fundo do baú), 3 ano científico , vespera do vestibular. Já mencionei antes que estudei no Colégio Princesa Isabel, o que não mencionei é que ao invés de iniciar nas turmas regulares, ganhei uma bolsa de estudos e fui estudar na turma IME-ITA.

Para quem não sabe a turma IME-ITA é uma turma especial na qual se preparam normalmente homens para as academias militares de engenharia. Rotina rigorosa, aulas de segunda a sábado, provas todos os domingos e lista de exercícios cada vez mais difíceis. Quando chegamos ao meio do ano tive uma estafa e fui obrigado a tomar a seguinte decisão: ou voltava as turmas regulares e me preparava para o vestibular convencional ou inevitavelmente não passaria para lugar nenhum.

Apesar de uma pequena frustração, pude pelo menos retomar uma rotina normal de adolescente e mais do que isso desfrutar dos últimos minutos na escola. A universidade é um passo antes da vida real, onde não há mais recreios, chamadas e recuperações e por isso decidi aproveitar ao máximo estes momentos.

Tinha uma grande amiga que jogava tênis no mesmo clube que eu e que estudava no mesmo colégio. No grupo de amigos dela, várias meninas que se preparavam para as mais diversas áreas, economia, direito, engenharia, etc. Não preciso dizer que após meio ano estudando só com homens de 12:00 as 20:30, estava indo direto ao paraíso...

Nesta época era muito comum irmos em algumas boates e/ou barzinhos que tocavam bossa nova, ritmo de dança que permite dançar coladinho, e que era a perfeita oportunidade de uma conversa ao pé do ouvido. Tive oportunidade de namorar uma destas meninas, mas como todo namoro daquela época não durou muito tempo, apenas um mês.

Continuei saindo com o mesmo grupo e nele havia uma menina ruiva, muito interessante. Ela sempre comentava que saia com caras mais velhos, curtia Oswaldo Montenegro e pelo descritivo certamente não deveria constar no seu leque de interesses. Mas como a vida é engraçada e cheia de reviravoltas, eis que um dia estavamos no recreio, andando e conversando e soltei a seguinte pérola : " Poxa, ninguém tem gostado de mim ultimamente" e a linda garotinha ruiva (como diria charlie brown) retrucou : "Que isso, tem muitas interessadas, basta olhar ao seu redor !"

Bom, não estava em inglês, nem era música do Marvin Gaye, mas o jumento aqui respondeu :  " Onde, onde...". Um cara idiota como esse não merece mesmo uma linda garotinha ruiva....Mas eis que estavamos perto da nossa formatura do colégio, que era o evento do ano e todos estavamos animadíssimos para esta comemoração. Homens de terno, mulheres de longo, o evento prometia, então tudo era possível.  

Comprei meu terno na Borelli, no Rio Sul, e meu pai foi escolher comigo. Se visse uma foto do terno hoje, juro que eu sairia correndo, mulher apaixonada topa qualquer parada mesmo, porque o terno era ridículo, hehehe...Moda, moda, moda, o tempo passa e avacalha tudo.

Na tarde que antecedeu o evento,vários amigos meus se reuniram para as últimas impressões e em alguns casos planejar a melhor abordagem. Ao final, ficamos eu e meu amigo André que era muito amigo da linda garotinha ruiva. Bom, lá pelas tantas, André me pergunta o que eu acho da amiga dele. Bom, eu respondi : "André acho ela uma gata, mas creio que não faço o tipo dela." e daí veio a resposta que me intrigou : " Marcelo, porque você não tenta ? Às vezes isso é só impressão sua."

Pois bem, banho tomado, cabelo cortado e com uma pulga atrás da orelha, coloquei meu terno, ou armadura de combate, e fui para a festa. O local não poderia ser o mais apropriado, Clube Costa Brava, dezembro de 1988 , clima quente, noite clara e toda cheia de estrelas e uma varanda perfeita para observar a noite, enquanto as ondas quebram nas pedras.

Tudo transcorria normalmente sem nenhum sobressalto. Havia também nesta festa outra menina que estava interessada em mim e que estava na mesma mesa que nosso grupo, mas até ai nada demais porque eu nem tinha feito planos de ficar com ninguém. A música rolava solta, comida e bebidas liberadas e um clima de alegria com energia mais que positiva.

Algumas horas depois avistei a linda garotinha ruiva, usando um vestido vinho, salto alto (se eu já era baixinho com ela sem salto, imagina com) , maquiagem perfeita , perfume inebriante (e para um garoto introvertido como eu, é a pura perdição, já diria o RPM) e um batom vermelho...ah..que batom vermelho.

Papo vai , papo vem, surge a idéia de irmos a varanda....pronto...mensagem dada, agora não tem dúvida e nem para onde correr, ela quer ficar comigo mesmo. Bom, após uns minutos de enrolação (pode até não parecer, mas sou bastante tímido) nos beijamos. A diferença de altura era tanta, que deixou um rastro do batom começando na minha boca e terminando na gola de minha blusa (fato este só percebido na manhã seguinte).

Não preciso dizer que a noite se tornou mais do que agradável, tanto que namoramos uns meses e foi uma experiência muito legal , que marcou positivamente o início da minha era universitária. Entretanto, como havia mencionado, havia outra menina interessada e ela nos viu ficando o que causou um momento de desconserto mas nada demais, pelo menos eu achei na hora.

A linda garotinha ruiva teve de ir embora com a irmã por volta das 03:00, eu ao contrário, fiquei até o final porque além de estar de carona, minha carona começou a namorar um grande amigo no mesmo evento. Decidi então deixar meu paletó na mesa do meu grupo e voltar a dançar, afinal de contas nada mais apropriado. Na mesa, sentada com os pés apoiados na cadeira em frente, a outra menina que estava interessada descansava, quando eu com toda minha sensibilidade travei a seguinte conversa:

  eu : Oi, tudo bem? Você não vai dançar?
  ela: Não estou cansada, obrigado, vou ficar aqui.
  eu: Então, posso deixar aqui meu paletó e você toma conta dele para mim?
  ela: Pode, claro, mas se alguém quiser levar eu deixo.......
 
Com a minha sutileza de um jegue, peguei minhas coisas e saí. Não ia correr o risco de perder meu terno novo...hehe...Um amigo meu me retrucou mais tarde que havia sido insensível principalmente em nem ter notado que a menina estava chateada exatamente por minha causa.

Não lembro bem a definição que ele me deu, mas muitos anos mais tarde se tornaria o que chamamos de "Canalha Honesto".....mas eu juro, foi mesmo sem querer.

Jóga

"All these accidents that happen
Follow the dot
Coincidence makes sense
Only with you
You don't have to speak - i feel

Emotional landscapes
They puzzle me
Then the riddle gets solved
And you push me up to this:

State of emergency : how beautiful to be
State of emergency : is where i want to be

All that no-one sees
You see
What's inside of me
Every nerve that hurts you heal
Deep inside of me
You don't have to speak - i feel

Emotional landscapes
They puzzle me
Then the riddle gets solved
And you push me up to this:

State of emergency : how beautiful to be
State of emergency : is where i want to be " Jóga - Bjork

Sempre gostei de música, mais ainda das letras como exaustivamente comentei. Bjork é uma cantora que é capaz de produzir canções lindissimas e outras tão estridentes que chegam a assustar.

A primeira vez que ouvi foi no filme "O Profissional" de Luc Besson, a canção era "Venus as a boy" e achei muito linda e decidi comprar o CD. Em 1998, passaria 2 meses no Equador a trabalho e lá compraria o CD Homogenic que contém a música que da título ao post.

Lendo atentamente a letra percebe-se, ou pelo menos eu percebo, a intensidade e a profundidade do amor declarado e simplesmente resumido na frase "Você não precisa falar ..... eu sinto" que retrata a perfeita sintonia, talvez até utópica que existe na relação. Outra coisa que acentua a beleza da canção são os arranjos, Bjork combina sua voz com instrumentos como violinos e violoncelos dando um tom clássico a uma música moderna.

Esta canção tem também uma outra importancia para mim. Eu estava na Colombia, no mesmo ano 1998, e havia completado um ano de casado (de meu primeiro casamento), havia sido informado 2 dias antes que minha viagem de volta ao Brasil havia sido cancelada e que a empresa precisava de mim. Como dizer a sua esposa que sua promessa de passar o primeiro aniversário de casamento juntos não seria cumprida ? Confesso, que eu , um cara que normalmente fala e argumenta com relativa facilidade, levei 30 minutos até que ao telefone me ocorresse algo a dizer que pudesse ao menos minimizar o impacto daquela notícia.

Admito que não há o que se diga que conserte o fato e hoje mais claramente percebo isso. Argumentos dados, choro e momentos longos ouvindo pacientemente minha ex esbravejar e ao fundo o click do telefone encerrando a ligação. Só me restou pensar em como registrar aquela data, 1 ano, ainda que fosse a distância.

A noite, no alojamento, estava escutando músicas aleatoriamente e me deparei com esta e como diria a música "the riddle gets solved", um cartão escrito a meu pedido pela minha mãe com a letra da música e junto um buque com 35 rosas chá (antes que perguntem a 36 rosa é a dama que recebe o presente e que completa o buquê).

A letra assim como as flores tocaram fundo e apesar da distância e das circunstâncias o objetivo foi alcançado.

Até que enfim, não saber o que letra do Marvin Gaye dizia e que me obrigou a aprender inglês, mostrou sua utilidade..hehe.

segunda-feira, 8 de março de 2010

"Somesing that needs conscientization"


A vida nos prega belas surpresas de vez em quando. Sempre achei que após certa idade é muito difícil fazer novos amigos, "irmão de alma", como já mencionei em outro post. Entretanto, aqui na Líbia posso dizer que encontrei um desses amigos. Não é o único, a Líbia me reservou a grata oportunidade de conhecer muitas pessoas especiais, reencontrar velhos amigos e conhecer outros que durante anos só nos falavamos por telefone.

O Rodney, este que está comigo nesta foto em Paris, apesar de sua curta estadia no projeto se tornou um parceirão. Desde um primeiro contato houve uma empatia como se já fossemos amigos há anos. Além de um profissional muito competente é extremamente comunicativo, a ponto até que, se eu quiser olhar para mim há 10 anos atrás, basta olhar para ele. Não em termos físicos, por certo, mas por temperamento.

 Em novembro do ano passado tivemos um feriado no país e fizemos uma viagem a Londres e Paris ( na verdade somente um dia para que ele conhecesse a cidade e pudesse levar a esposa no fim do ano). Foi muito divertido e seguramente aproveitamos a oportunidade de conhecermos um pouco mais de nossas vidas. Rodney viajaria para se casar logo em seguida e eu retornei ao projeto, mas o periodo fora do ambiente de trabalho somente reforçou nossos pontos em comum.

Seja como for, ele agora está a caminho de um novo desafio profissional e acima de tudo para estar ao lado de sua esposa, porque é assim que deve ser. Os primeiros meses e anos do casamentos são vitais e dizem muito de como vai ser a relação e eu torço para que sejam muito felizes porque ele merece.

Não vou dizer adeus porque sei que inevitavelmente as pessoas acabam se encontrando e também porque acredito que a amizade traspõe distâncias e obstáculos. Nesse momento deve estar em Amsterdã e deixo aqui meu forte abraço e o relato de uma amizade sincera e duradoura.

Não tem a ver com o post em si, mas não posso deixar de comentar que na foto acima estava obviamente, revalidando os meus votos de "Boa Sorte " que, para quem me conhece, sabe bem o que significa, hehehe.
  

quarta-feira, 3 de março de 2010

Exercício de Liderança

Bom, um dia me perguntaram sobre liderança, ou seja, o que é ser lider ou em muitos casos liderado. A pergunta é pertinente e um pouco complexa de ser respondida, mas como me comprometi a nunca me omitir fiz a análise segundo as ponderações que vem a seguir.

Primeiro escolhi um livro que considero, quando lido sob a ótica de administração, um dos melhores do genero. O poderoso chefão, obra de mario puzo, retrata a máfia através da família corleone e mais especificamente na figura de seu patriarca, o respeitadíssimo Don Corleone.

No livro, Don Corleone dá várias lições que são totalmente válidas para nosso cotidiano. No caso de liderança, Corleone sempre escolhe ter aliados, do que inimigos , escolhe fazer favores, do que deve-los e mais do que tudo quando cobra estes favores, sempre o faz através de algo inerente as aptidões de quem  deve e não algo ilegal ou que traga riscos. Num sentido tático perfeito, ele sabe extrair das pessoas, o seu melhor e consegue, ainda,  que elas o façam sentindo gratidão.

Ainda que por fim imponha sua vontade, Don Corleone o faz sempre de forma a parecer que está fazendo um favor a outra pessoa e esta situação normalmente gera ganho para ambos, apesar de nem sempre ser na mesma proporção. Além disso, ele também procura antever os próximos passos de maneira muito similar a um jogo de xadrez, onde os grandes mestres sempre analisam varias situações a frente antes de finalizar o movimento.

Don Corleone sem dúvida nenhuma é um lider. E um verdadeiro lider dever ser muito proximo a sua figura, ou seja, ponderado, firme, mas ao mesmo tempo razoável e com a habilidade de ouvir seus liderados e acima de tudo, analisando todo o cenário, ser capaz de decidir de forma a buscar a melhor situação/solução para todos. O símbolo de que é necessário ouvir as pessoas, ou a razão, se assim preferir, é a existência da figura do consigliere, braço direito de todo Don. 

Um lider deve inspirar seus liderados e ser para eles um modelo. Não um modelo a ser copiado, mas um ponto de referência e se possível aprimorado, ou seja, reiventado de forma a criar sucessores ainda melhores com valores, ainda maiores, agregados. Ouço muito falar em sinergia, muitas vezes é difícil vê-la, e para mim Sinergia é a capacidade de harmonizar, talentos e vaidades em prol de um bem comum e com isso atingir seus objetivos, maximizando resultados, coisa que só um lider pode fazer.

Um lider não é um chefe. Chefe é um posto que pode ser ocupado por qualquer pessoa e sinceramente não requer a menor qualificação ou dom. Dar ordens, impor sua vontade e tornar-se presunçoso qualquer pessoa com poder, por menor que seja, pode fazê-lo. Ser lider de si mesmo é que é o mais difícil e só depois disso é que se pode ser lider de outras pessoas.

O aspecto que diferencia o lider do chefe é a capacidade de ter poder e não precisar demonstrá-lo ou ostentá-lo, em outras palavras, é a capacidade de conduzir as pessoas não pela imposição e sim pela inspiração.

Ao instigar as pessoas, fazê-las parte do processo decisório e de execução, se conquista aliados, influencia-se e acima de tudo conquista-se o respeito. Em resumo é isso, um líder é respeitado, não só por aqueles que o seguem, mas também por aqueles que estão ao seu redor.

O ponto nebuloso para alguns é se a liderança está associada a um dom inato ou pode ser desenvolvida. Creio, humildemente, é claro, que pode ocorrer das duas formas, sendo mais comum pela primeira. O lider nato, consegue guiar naturalmente as pessoas, enquanto na outra modalidade, isso é conseguido pela demonstração de conhecimento do assunto, da experiência  e pelos resultados obtidos. As duas formas para mim são válidas e no fundo o mais importante continua sendo o mesmo, maximar resultados através do bem comum.

Clodovil, polemico apresentador de TV, que foi demitido exatamente porque tratava mal as pessoas e mais do que isso, a seus convidados, declarou após voltar a televisão, que um líder pode ser temido ou amado, e que ele havia escolhido ser amado. Em outras palavras, impor sua vontade sem avaliar as consequências, sempre tem seu preço.

Mais do que tudo que foi dito, ser lider é um exercício diário e continuo de humildade, de aperfeiçoamento e de dedicação.

E assim como Don Corleone, ser capaz de conseguir o que se almeja sem ter de proferir uma ameaça sequer.