segunda-feira, 27 de junho de 2011

Entrelinhas ou entre linhas ?



"
Una palabra no dice nada
Y al mismo tiempo lo esconde todo
Igual que el viento que esconde el agua
Como las flores que esconde el lodo
. " Una Palabra - Carlos Varela

Aparentemente de férias e afastado de minha rotina de blogueiro fui brindado com a idéia do meu post. Estive em Buenos Aires nos últimos 4 dias e posso dizer que como sempre foi um presente poder viajar e conhecer ou revisitar lugares que são, além de agradáveis, cheios de história e atrações.

Tive também a grata oportunidade de reencontrar uma grande amigo que fiz na minha temporada na Líbia, Diego Hernandez. Nosso encontro não foi exatamente da forma que imaginamos, por imprevistos planejados pelo destino que certamente me querem de volta àquela terra, mas sem dúvida alguma foi muito bom revê-lo por mais breve que tenha sido.

Além de talentoso e brilhante, é uma pessoa divertida, extremamente agradável, um verdadeiro cavalheiro. Ele me conduziu ao aeroporto de Ezeiza  e durante o período que estivemos juntos recordamos nossos momentos de colegas de quarto e pares. Engraçado como não se apaga a cumplicidade que se cria quando temos valores em comum. Faltou apenas fumarmos um maduro da cohiba com uma boa dose de whisky mas essa fica para a próxima, está apenas adiado.

Ao mesmo tempo acessando meus e-mails me deparei com um questionamento sobre aquilo que se percebe apenas nas entrelinhas e sobre o que é mensurável. Não emiti opinião no inflamado debate porque muitas vezes ser observador é muito melhor do que ser agente.

Mas agora, retomando as minhas funções posso dizer seguramente que mais importante do que as duas palavras, entrelinhas e mensurável, preciso me posicionar e falar da forma com a qual vejo e entendo seus significados , importâncias e relevâncias.

Quando me falam do mensurável, sempre penso, na verdade, no intangível. Além de achar mais relevante, penso que reside ai a exata medida de valor. O intangível é tudo aquilo que agregamos em nós, nos outros, naquilo que fazemos e no que produzimos muitas vezes como fruto de nosso trabalho, de forma muito mais intensa, intuitiva e de caráter permanente.

E o mensurável apesar de permitir aferir com mais facilidade resultados, seja através de números, seja através de meros indicadores ou métricas, me parece ser uma medida superficial e imediata de valor. O intangível, normalmente, é muito mais duradouro mas como exige sensibilidade e muitas vezes a capacidade de ler além dos simples fatos, acaba por passar despercebido aos olhos menos aguçados ou treinados.

Se você se propuser ser cartesiano ou pragmático, muito facilmente você ficará com o mensurável, campo seguro que nos rodeia, mas se ao contrário, se se permitir explorar o que há de melhor e com isso se aprofundar na real potencialidade das pessoas, perceberá que há muito mais a captar em outras formas de leitura.

Se me perguntarem sobre em que devemos focar, se é no processo ou nas pessoas, lhe direi, sem titubear, que será nas pessoas. Os processos são criados, sobre dadas condições e circunstâncias, por pessoas e para pessoas, o que invariavelmente, se você observar, nos remete ao mesmo ponto de partida.

O foco é, portanto, ter as pessoas certas e com elas adequar os processos às realidades de cada lugar e cenário. O tempo e as condições para fazê-lo não devem ser ignorados ou tratados de forma leviana, muito pelo contrário, quanto mais adverso e inóspito for o cenário mais importante se torna valorar corretamente o trabalho realizado.

Outro fator, somente para arrematar o tema, é que a interrupção de um processo de maneira abrupta não pode, nem deve, turvar o senso de julgamento e valor do que se foi construído ou do que estava em construção e teve de ser interrompido, principalmente no que tange aos laços de confiança, cumplicidade e parceria.  Não fosse assim, deveriamos também, como profissionais, ser tão pragmáticos ou cartesianos  em nossas escolhas.

E é por isso que creio que somos melhores do que máquinas, por termos o aspecto emocional e a capacidade de reiventar e isso só me reforçar porque devemos focar sempre nas pessoas.

"
Una mirada no dice nada
Y al mismo tiempo lo dice todo
Como la lluvia sobre tu cara
O el viejo mapa de algún tesoro."
Una Palabra - Carlos Varela

terça-feira, 21 de junho de 2011

Faltando um pedaço



O amor e a agonia cerraram fogo no espaço
Brigando horas a fio, o cio vence o cansaço
E o coração de quem ama fica faltando um pedaço
Que nem a lua minguando, 
que nem o meu nos seus braços” Faltando um pedaço - Djavan

O post desta semana tem a ver com um show que assisti semana passada e que pelo título fica óbvio de quem é. Os anos 80, geração da qual faço parte, foram recheados de talentos da música brasileira e para ser justo, internacional também. Desde o Rock até a MPB fomos premiados com verdadeiras pérolas que permearam diversos momentos de nossas vidas e que sem dúvida alguma marcaram toda uma geração.
No meu tempo, tinhamos apresentações de grupos musicais que interpretavam também sucessos dos cantores ligados a Bossa Nova. Interpretações maravilhosas de canções de Chico Buarque, Vinícius de Moraes, João Gilberto, Tom Jobim, Caetano Veloso,Toquinho,  apenas para mencionar alguns grandes talentos atemporais de nossa música, eram lugar comum em nossa rotina de barzinhos nos fins de semana. Quem no Rio de Janeiro, não se lembra de um famoso bar chamado “Cabeça Feita” ? Neste bar, inúmeras festas, encontros e alguns desencontros aconteceram e a idéia de dançar juntinho se fez presente visto que numa geração de Rock, dançar abraçadinho havia caído até então em desuso.
Djavan cujo show considero ida obrigatória a qualquer casal, seja em começo de relacionamento, seja simplesmente pela garantia de boa música e interpretação, transita em meu universo por todos estes anos. Acho que além de um excelente intérprete é sem dúvida alguma excelente compositor e apesar de ouvir de muitas pessoas que ao longos dos anos ele se tornou demasiadamente comercial, creio que revisitar suas canções, verdadeiros versos em movimento, é sempre garantia de alegrar seu coração.
Esta sexta fui sozinho ao show dele aqui em São Paulo. Foi uma excelente surpresa porque sem saber fui agraciado com um repertório de vários talentos de nosso cenário nacional. Interpretações de Cartola, Luiz Gonzaga, Gilberto Gil, Frank Sinatra, entre outros, foram o tema central do espetáculo dado que seu último CD foi não-autoral. Pude comprovar que além de talentoso, possui extremo bom gosto em seu repertório musical.
Claro que ele, como não poderia deixar de ser, escolheu também músicas do início de sua carreira, como Linha do Equador, Samurai, Sina, Oceano, Te devoro, entre outras. Acho que se ele quisesse poderia ter modelado o show de outras formas e ainda assim teria sido maravilhoso. Ele fez outra escolha excelente que me surpreendeu positivamente. Decidiu que iria fazer um show mais intimista com o uso até de um violoncelista. Escolha certeira, um toque de clássico nas sua canções.
E como era de se esperar, ao sair do espetáculo, estava recheado de idéias e inspiração outra vez. Decidi através de versos fazer uma homenagem ao brilhante cantor e compositor Djavan, vamos ver como me sai desta vez.
E vamos ver se o próximo post eu inovo e escreverei de outro País, até lá.

Djavaneando

Posso sentir o coração pulsar
E também aquele forte arrepio
Como a brisa do mar que afaga meu rosto
E seus lábios acariciando minha pele em desatino

Mãos entrelaçadas, olhares velados
Almas desnudas, ardor dos corpos em harmonia
Nós dois somente, o tempo suspenso
Tudo, como se não houvesse amanhã.

E agora, sinto como se faltando um pedaço
Como fosse verdadeira sina
Um imenso abismo, um oceano
Separando tal qual a linha do equador
Meus desejos do meu destino


São Paulo 20/06/2011/Rio de Janeiro 21/06/2011

domingo, 12 de junho de 2011

Sinais de Fogo


"
Que distância vai guardar nossa saudade ?
Que lugar vou te encontrar de novo ?
Fazer sinais de fogo
Pra você me ver...

Quando eu te vi, que te conheci
Não quis acreditar na solidão
E nem demais em nós dois
Pra não encanar...
" Sinais de Fogo - Ana Carolina

 Em fevereiro deste ano, eu escrevi o post La Vie en Rose a pedido de uma amiga. A tarefa foi árdua pelo desafio de escrever um texto baseado em outro, entretanto foi recompensador, porque várias pessoas ( inclusive homens) elogiaram o resultado final. 

Alguns podem dizer que o texto era brega ou meloso, mas prefiro entender que era intenso, vivo e sincero. Era uma crônica que foi originada de forma rápida e simples e surgiu como se de fato já estivesse pronta. Entendo que os anos de minha vida em que vivi o amor e a paixão ( sinto e respiro a idéia de amar algo ou alguém como forma de inspiração) me ajudaram e também os anos de confidente que me permitiram ver, ouvir e conhecer as mais diversas forma de se querer ou de sofrer por alguém com todas as agruras e gostosuras que isto significa.

Na época do post, fiz uma homenagem ao dia dos namorados ( normalmente 14 de fevereiro em muitos paises) e acredito que casou perfeitamente. Agora, meses depois, estou aqui de novo disposto a uma nova homenagem. Acredito que agora a tarefa se tornou mais desafiadora porque o primeiro texto teve excelente repercussão e principalmente porque escrever versos é sempre uma incerteza do resultado final.

Voltei ao Brasil para celebrar os 45 anos de casados dos meus pais e acho que não há outra fonte mais inspiradora do que isso, um casal que se ama há tanto tempo de forma igual e intensa e eu sendo o fruto deste amor. Ah!!! o dia dos namorados, nada como uma paixão e poder dizer "Adoro você" todas as manhãs, nada como uma fonte de inspiração.

Desta vez não vou escrever um poema inédito, vou editar um antigo que escrevi quando ainda iniciava como poeta e que considero atemporal e pertinente para a data que se celebra hoje e que de fato deveriamos celebrar todos os dias.

Amantes

Nós somos pássaros
Somos o vento, somos a esperança
Somos o tempo brincando com o nulo
Em um mundo escuro e vazio...

Somos amantes, corpos ardentes
Que simplesmente se querem
Somos a herança
Que não se cansa em nos castigar

Ao relento
Somos na verdade
O que a velha humanidade
Esqueceu de ser.

Rio, 24/05/1985

"
Você sempre surpreende
E eu tento entende
r
Você nunca se arrepende
Você gosta e sente até prazer

Mas se você me perguntar
Eu digo sim, eu continuo
Porque a chuva não cai
Só sobre mim 


...

E é tão certo quanto calor do fogo
Eu já não tenho escolha
E participo do seu jogo, participo
" Fogo - Capital Inicial

domingo, 5 de junho de 2011

Todo mundo fala mandarim ai?


"
I'm not dog no, for live so humble
I'm not dog no, for you be so very far
You don't know understand who is love, who is like
E eu já estou querendo stay here
And so there I go away "
I am not dog no - Falcão

Era um fim de tarde bucólico numa região erma nas longínquas terras na África onde um grupo de incautos homens de RH estavam reunidos para fazer uma avaliação da semana. Habitualmente estas reuniões tinham um cunho apenas de alinhamento das atividades em andamento, alguns itens pendentes e eventualmente alguma discussão que se fizesse necessária em ambiente isolado.

Naquele dia, porém, havia sido apenas uma conversa informal, a área começava a dar sinais evidentes de evolução e organização, percebia-se que o departamento mais do que qualquer coisa apresentava uma união que sem dúvida alguma  se tornaria em uma unidade em pouco tempo.

Exatamente as 18:30 adentra a sala o novo gerente. Homem de baixa estatura, estudado e experiente nas artes da construção civil. Começa a travar neste exato momento uma nobre conversa com o responsável pela área administrativa do projeto sobre sugestões e contribuições que poderiam agregar, as mudanças que já estavam acontecendo, qualidade e eficiência.

O mais interessante é que a conversa era travada como se somente eles dois existissem na sala, ou seja, nada mais no mundo importava. E isso se estendeu por pelo menos uns 8 minutos até que o novo gerente perecebesse que outra pessoas estavam na sala.
Neste exato momento, o intrepido gerente para a conversa e indaga a todos que estão na sala:
 
- "Desculpem-me, não vi vocês.  Todos vocês aí falam português?"
 
 Ato contínuo todos repetem a uma só voz : "Sim, falamos !!!!!"

O gerentão, um "poliflóta" da melhor estirpe continua então sua explanação:

- "So, as I was telling you about......"

E daí para frente o homem desandou a falar somente em inglês para a surpresa e espanto de todos na sala. Seu discurso durou pelo menos uns 20 minutos sem interrupção até que cansou e foi embora. Daí para frente, encerramos a reunião.  Não sem antes, é claro, rirmos sem parar com o acontecido.....

E depois o pessoal ainda reclama das executivas do post anterior....

"
Lágrimas não são forever
Dores já não são together
Quando a gente ama espera
Um dia assim chegar
Chegou


......
 

My eyes to see you
But I need
To believe it's true
Maybe my love likes crazy
Love is you, is you, is you, is you
And me and you
If I don't know how good it is
Só não demore quanto ao tempo pra chegar
" Quanto ao Tempo - Ivete Sangalo