quarta-feira, 21 de março de 2012

Message in a bottle


"
Walked out this morning, don't believe what I saw
Hundred billion bottles washed up on the shore
Seems I'm not alone at being alone
Hundred billion castaways, looking for a home
" Message in a Bottle - The Police

Eu comecei este Blog em 2010 de forma totalmente despretensiosa e no desejo de preencher meu tempo com histórias, viagens, fatos e momentos que marcaram a minha vida. Sem nunca perder o senso de humor, brinquei até com temas delicados e íntimos, na certeza de que compartilhar parte de sua jornada, de suas alegrias, medos e conquistas pode tocar pessoas que, mesmo sem nenhum laço direto, muitas vezes separadas por continentes, mares, oceanos, precisam apenas perceber que não estão sós no mundo e que outro alguém, já passou, sentiu, viveu a mesma coisa ou ao menos parte daquele momento que estão enfrentado.

Sei que isso não irá trazer a solução para os problemas de ninguém, não tenho esta pretensão, mas penso que seja reconfortante saber que nossas experiências podem ao menos servir para diminuir o fardo que alguém está carregando. 

Estava voltando para casa e escutando o The Police quando me deparei com a citação do post de hoje. Algumas idéias já nascem prontas e apesar de ter prometido para um casal de amigos e a uma amiga escrever um texto cômico ao invés deste mais reflexivo, não pude evitar trocar a ordem da publicação. Prometo que o próximo será o tal post prometido, mas peço a compreensão e que entendam a razão da minha troca.

A canção magistralmente interpretada por Sting relata através de uma metáfora, o fato de que, apesar de acharmos que somos os únicos sozinhos no mundo, muitas vezes abandonados ou perdidos, esta visão é, na realidade, completamente equivocada. A vida não nos apresenta desafios intransponíveis, somos nós, paralisados pelo medo e pelo mau hábito de escolher atalhos ou simplesmente o caminho mais fácil, que preferimos evitar a confrontação que, no final, leva a transposição das provações/obstáculos que surgem de tempos em tempos.

E qual a maior mazela dos nossos dias? O vazio no coração que traz consigo o vazio na alma. E quando penso como num mundo cheio de meios de comunicação, as pessoas estão se tornando cada vez mais incapazes de se comunicar, de forma franca, transparente e sincera, fico triste. O ser humano tem, a cada dia que passa, exercitado como sentir pena de si mesmo, se isolando ao invés de entender que através da interação, podemos dividir o fardo e facilitarmos o processo de cura. 

As doenças que aparecem em grande quantidade, na atualidade, são muitas vezes frutos do processo de sublimação a que nos submetemos e que por somatizarmos nossas emoções, se refletem, inevitavelmente, através de enfermidades como se fossem um pedido de ajuda do nosso próprio organismo.

Creio que as pessoas gastam uma quantidade enorme de energia, pensando como será o futuro que esquecem que este é fruto do que realizamos hoje. Se preocupam tanto com o que perderam (e que não irá mais voltar) que desperdiçam a oportunidade de aproveitar as alternativas que a vida as oferece. E o que me deixa mais triste é que ficam dizendo que o mundo conspira contra, quando, de fato, se tornaram cegas para as opções que brotam ao seu lado.

E depois que perder no caminho,aquilo ou parte daquilo que a vida lhe ofereceu como alternativa, posso apenas afirmar, que não adianta se arrepender e dizer que agora entende o valor das coisas, porque a vida não para e fica esperando que você se decida Se não o fizer, o destino tira esta escolha de suas mãos e decide por você o que bem entender e não adianta se lamuriar depois.

Para encerrar, escolhi a citação abaixo do filme do Adam Sandler, Espanglês. Dizem que me pareço muito com ele e pode até ser verdade. Tenho de confessar que neste filme, não me achei apenas fisicamente parecido mas também me identifiquei muito com o personagem por ele interpretado. O texto abaixo reflete parte da mensagem que tentei passar ao longo do post. Não se apeguem tanto ao cunho de relacionamento da citação, apesar totalmente pertinente e real, mas transponham para outros cenários e realidades e perceberão como ela também se aplica.

Todos nós nascemos e morremos sozinhos, isto é certo, o que cabe a nós escolher, é a forma como iremos viver.... 

"
...
And you will never find someone as good.
There'll only be men who
you know are cheap and shallow...
and have no real warmth in their souls.

You may have gotten by
on those surfaces once but now...
...
you have been spoiled by a good man
." Evelyn Wright - Spanglish (2004) 

sábado, 17 de março de 2012

Calm inside the Storm

"
Medo de fechar a cara, medo de encarar
Medo de calar a boca, medo de escutar
Medo de passar a perna, medo de cair
Medo de fazer de conta, medo de dormir
Medo de se arrepender, medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez

Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo... que dá medo do medo que dá
Miedo... que da miedo del miedo que da" Miedo - Lenine feat Julieta Venegas

Uma professora de redação, Marluce, me disse quando cursava a a primeira série do segundo grau (acho que nem existe mais isso): " Vale mais a pena ficar vermelho um minuto, do que amarelo a vida inteira".

Gostaria de contextualizar esta frase e meu momento de vida. Estava no colégio e minha professora, esta da frase, não gostava de mim. Havíamos discutido sobre um trabalho de poesia que havia feito e que ela presumiu que eu copiei e não fiz, ou seja, me chamou de desonesto por não usar um texto original e meu. Na época, este tema foi levado a um conselho e uma vez que este sabia da minha verve poética, deu a nota mais alta e não preciso dizer que isto criou um clima de animosidade entre nós.

Não vou tecer detalhes se eu me portei da forma mais madura ou não, afinal eu tinha apenas 15 anos na época, mas posso dizer que as coisas não ocorreram da forma mais "siciliana" possível. Anos mais tarde iria aprender como lidar melhor com situações como essa, descobrindo, é claro, a escolher quais batalhas valem a pena ou não lutar e vencer; mas com os hormônios aflorados, certamente era improvável agir da forma mais ponderada.

No momento em que ouvi a frase que mencionei no primeiro parágrafo, retomei meu lugar na história e recuperei a aceitação e aprovação de minha professora. Ocorreu na sala um incidente em que me posicionei  e ao final da aula, ao me pedir para ficar por último na sala, ouvi o provérbio que jamais esqueci e carrego ao longo da vida comigo.

Não vou dizer que não sinto medo, eu sinto. Confesso até que é mais prudente, apesar de todo espiríto empreendedor, que tenhamos a cautela necessária para analisar as decisões e ações que tomamos na vida antes de agir. Tudo que fazemos ou deixamos de fazer afeta a nossa vida e a daqueles que nos rodeiam e acho que seriamos egoístas e imprudentes se não avaliassemos a extensão de nossas escolhas. Mas percebam, há uma diferença entre prudência/ponderação e covardia.

Veja, vocês gostariam de saber qual meu maior medo? Olhar para trás e ver que não vivi. Perguntaram para mim esta semana se sempre fui espiritualizado e com a percepção das coisas que eu tenho. Notem, eu estou longe de ser perfeito e plenamente evoluído ou eu não estaria aqui, mas eu acredito que a gente é composto pelas marcas na areia que deixamos e eu gosto, como já disse em post anterior, de me lembrar de cada uma delas.

Não posso dizer que me orgulhe de tudo que fiz, não me orgulho, mas sei que aprendi com cada uma das lições que a vida me impôs a ponto de afirmar que se eu morresse hoje (calma, calma, vocês ainda vão me aturar por muito tempo, hehehehe) não traria arrependimentos da vida que eu levei. Faltam-me filhos, eu sei,  mas ainda assim sinto que multipliquei, mesmo que de outras formas, parte do que eu sou.

Me perguntaram se é covardia ou fraqueza, sentir medo. Não, não é.Não enfrentar os próprios medos é que é. Escolhi novamente a música do Lenine porque eu acho-a extremamente pertinente e além do mais muito próxima, de como eu enxergo o que é sentir medo. "Medo de se achar sozinho, de perder a rédea, a pose e o prumo, Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo"

Rumo e calma, este é o enfoque. O medo não deve nos paralisar, não nunca, e por mais paradoxal que seja, deve ser o catalizador para um novo futuro, um novo amanhã, do desejo de superar os obstáculos e da fazer algo ainda melhor. E o mais importante é saber que mesmo nos momentos das maiores incertezas, sempre haverá alguém para segurar nossa mão e nos acompanhar ao longo do caminho.

"
the calm inside a storm
love me a little, love me long
Don't you know
you should be holding me
but you're locked inside
why don't you throw me your keys ?
" Calm Inside the Storm - Cindy Lauper

segunda-feira, 5 de março de 2012

Chegadas e Partidas


 "
Someone like you, and all you know, and how you speak
...
You know that I can use somebody
You know that I can use somebody
Someone like you

Off in the night, while you live it up, I'm off to sleep
Waging wars to shake the poet and the beat
I hope it's gonna make you notice
I hope it's gonna make you notice

Someone like me
Someone like me
Someone like me, somebody
" Use Somebody - King of Leon

Existe um programa da GNT chamado "Chegadas e Partidas" e apesar de eu não gostar muito de sua apresentadora, não posso negar que a idéia de acompanhar os encontros e desencontros em um aeroporto proporciona histórias muito interessantes.

E é  engraçado como muitas vezes só contextualizamos alguma coisa quando ela começa a fazer parte do cotidiano. Tenho o costume, há mais de 3 anos, de viajar pelo mundo ou mesmo dentro do meu País e isso significa dizer que normalmente tem alguém me esperando ou se despedindo de mim e já presenciei os mais diversos tipos de reações tanto na minha chegada como quando partia. 

Mas foi somente quando esta ótica se inverteu, ou seja, era eu quem estava me despedindo ou recebendo é que começei a reparar naqueles pequenos detalhes, que na verdade são muito relevantes, e que passam despercebidos do público em geral.

Antes mesmo de precisar falar de mim, claro que vou colocar meus sentimentos e visões, o que percebi são as mais diversas emoções contidas em cada pessoa ou grupo de pessoas, que está a espera de um funcionário de empresa, de um amigo, de um ente querido ou da pessoa que ama, Foi curioso observar o compartamento de cada uma delas nestes mais diferentes segmentos e das expectativas de cada um em cada situação e como isso afeta, mesmo que você não veja nem perceba imediatamente, quem está ao redor.

Neste últimos 2 meses, esta tem sido a minha vida, ou seja, acompanhar chegadas e partidas e foi inevitável ao longo deste período não me sentir parte de tudo que acontecia ao meu lado. Desde a menina que voltava do intercâmbio e que a família, amigos e namorado esperavam com banner e outros adereços, como um filho abraçando em meio a lágrimas seu pai, mesmo ele dizendo que voltava em apenas dois dias. Creio que é impossível se você possui um coração, que muito mais do que simplesmente bombear sangue, contém sentimentos, não se sensibilizar e até mesmo se emocionar com estas cenas.

Foi curioso também ver a reação daqueles cuja profissão é levar e receber pessoas no aeroporto. Cada um deles com seu papéis com os mais diversos nomes e empresas para as quais trabalham, a espera normalmente de desconhecidos e desprovidos, por isso mesmo, de qualquer emoção a não ser a obrigação e responsabilidade de recebê-los e levá-los ao seu destino. Ainda assim, há sempre um misto de indiferença e ansiedade pela chegada ainda que estes sentimentos sejam opostos.

Da minha parte, mais precisamente no meu caso, posso dizer que é muito triste ter de se despedir, mesmo que seja dizendo um até breve, na certeza de um reencontro próximo. Ainda mais frustrante é estar a espera e saber que o vôo foi cancelado e que terá de aguardar até o dia seguinte, repetindo o mesmo ritual na porta do desembarque, dividindo aquele momento, que parece interminável, como novos rostos e outras histórias.

Porque quando parte alguém que você ama, parece, na verdade, é que parte do seu coração partiu com ela e  isso deixa um imenso vazio no peito. Assim como quando ela regressa,  traz junto a certeza cristalina de que somente quando retorna é que se estará completo novamente.

"
I'm running out of time
I'm out of step and
Closing down
...
And uselessly
Always the need
To feel again the real belief
Of something more than mockery
If only I could
Fill my heart with love
" Closedown - The Cure

quinta-feira, 1 de março de 2012

Simplesmente Recomeçar

"
If I fall along the way
Pick me up and dust me off
If I get too tired to make it
Be my breath so I can walk
...
Shouldn't be so complicated
Just hold me and then
Just hold me again
" Bent - MatchBox 20

Me disseram, em dezembro de 2002, uma frase que eu jamais esqueci e que trago comigo até hoje. Uma amiga querida que foi, na época, secretária da área em que trabalhava me disse, ao saber que que não acompanharia a mudança da empresa para São Paulo: "Aprenda a conduzir a sua vida, não faça como a canção do Zeca Pagodinho que diz Deixa a vida me levar".

Mais do que uma verdadeira lição e conselho de vida, aquela frase me marcou porque realmente estava abdicando de trabalhar numa empresa reconhecida mundialmente, embarcando no mundo incerto de abrir minha empresa e virar consultor. Certamente um universo de medos e questionamentos vieram à tona posto que mergulhar rumo ao desconhecido sempre dá aquele frio na barriga e gera a dúvida sobre suas próprias capacidades e competências.

Antes eu poderia dizer que me sentia seguro e confiante quanto ao meu futuro, muitos disseram, mas agora onde não havia limites para os perigos, frustrações, conquistas e desafios que apareceriam, tudo parecia incerto e duvidoso. Alguns até desdenharam quando sai da empresa achando-me incapaz de trilhar meu caminho sem uma estrutura parruda me suportando e se você olhasse para o momento que o Rio de Janeiro atravessava, possivelmente concordaria com aquelas opiniões.

Minha resposta, como o tempo sabiamente demonstraria, foi dada através do meu trabalho, das minhas realizações, do espaço no mercado que minha empresa ocupou e mais do que isso pelo próprio retorno a empresa que havia saido no final de 2002. Fui convidado por 3 vezes a retornar até que de fato isso viesse a ocorrer em outubro de 2008, viajasse para o outro lado do mundo, mais precisamente na Líbia, onde novos e ainda mais desafiadoras experiências viriam a ocorrer.

Ao decidir recomeçar, ou mesmo quando somos forçados a recomeçar, creio que o primeiro e mais importante passo seja uma reconstrução mental. Esta reconstrução baseia-se sempre em reprogramar o nosso cérebro para evitar as armadilhas que nossa mente normalmente nos prega. É comum, e não raro, que nossa mente nos traga a nossa zona de conforto, seja pelas boas memórias que experimentamos e guardamos, seja pelo conforto e muitas vezes a falsa sensação de segurança que uma situação, mesmo que muito ruim, mas conhecida, nos traz.

Como então lidar com este processo de transformação e porque não dizer de reeducação? Veja, cada pessoa reage, naturalmente, de maneira diferente, mas no final das contas a resposta será a mesma: Um exercício lento e diário de exercitar nosso cérebro e nossa memória de todos os prós e contras que nos levaram a tomar a decisão que tomamos, ou que o destino tomou por nós. Como exemplo pessoal, posso claramente mencionar um término de relacionamento e um posterior reencontro com uma ex-namorada, onde era muito comum e, muitas vezes, inevitável virem à tona os bons momentos que tivemos e aquela pergunta: Por que terminamos? Bem, nosso cérebro, num instinto natural de sobrevivência e autopreservação, filtra e apaga as lembranças ruins e nos remete as boas, cabe portanto, a nós o esforço de ampliar o espectro e sabiamente apontar cada um dos porquês, e acreditem existem vários, que nos levaram a seguir nosso caminho sem aquela pessoa.

Simplesmente recomeçar? Sim, é somente isso. Ninguém disse que será fácil, logo eu não me atreverei a dizer que não existirão intempéries, ninguém também disse que será rápido, mas não podemos nos furtar a tentar. É mais ou menos como aquela citação do Lt. Col. Frank Slade  no filme Perfume de Mulher, em que Al Pacino ganhou o Oscar, que explica e define com perfeição tudo que acabo de abordar: "If you make a mistake and get all tangled up, you just tango on." E o mais importante e legal na vida, é saber que sempre haverá no mundo alguém disposto a nos tirar novamente para dançar.

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I'm trying to free your mind, Neo.
But I can only show you the door.
You're the one that has to walk through it
" Morpheus - The Matrix