sábado, 13 de fevereiro de 2010

Podes Crer

O texto é inspirado em um outro que li hoje. Trata do valor de uma amizade, de um sorriso, de uma palavra de conforto, de um porto seguro e mais do que isso do sentimento de perda, vazio e despedida.

Estou a aproximadamente 1 ano e 3 meses morando fora do Brasil e de certa forma como os motivos e objetivos que me trouxeram aqui sempre foram claros, por mais adverso que seja o cenário, consigo me adaptar. Não há nada de especial em mim ou nisso, simplesmente algumas pessoas conseguem se adaptar mais facilmente a mudanças e outras não.

Não é a primeira vez que moro fora, quer dizer, não é a primeira vez que me ausento do país por longo período. O meu relato se remete exatamente ao ano de 1998 quando passei alguns meses em um projeto na Colômbia e me mostrou certos valores que estão dentro de nós, coisas importantes que, por serem parte da nossa rotina, não percebemos exatamente seu valor.

Existe o amor a nossa família, elo inquebrantável, genuíno, puro, sujeito a todas as intemperes e que mesmo assim prevalece. Estou falando de amizade, amigos que são quase como parte da família, aqueles que chamamos de "irmãos de alma".

Tenho a felicidade de poder dizer que tenho alguns assim e que nos momentos mais díficeis, naqueles em que vemos que realmente merece a denominação de amigo, estiveram incondicionalmente ao meu lado. Veja, isso não quer dizer que concordassem comigo, algumas vezes estava errado, mas sempre estiveram dispostos a me apoiar a superar estes momentos.

Estava na Colombia, num projeto situado a 5 horas e meia de Bogotá. Logistica dificil, ambiente adverso no qual nos localizavamos em uma região em que para voltar ao grande centro era necessário ir de ônibus e/ou carro escoltados até uma base militar e de lá , pegar um bi-motor até a capital.

Adicione-se a isso que estava recém-casado, de minha primeira esposa Ana, longe de casa e que era a primeira vez que ficava tanto tempo longe de amigos, família e um país que conhecesse a língua. Diariamente falava com minha mãe e com minha ex-esposa e sempre aproveitava para perguntar sobre meus amigos porque nem sempre dava para ligar para todos. Não era o ideal, mas funcionava.


Um destes dias, um sábado para ser mais exato, liguei para minha casa e minha ex-exposa não estava e nem atendeu. Ato contínuo, liguei para minha mãe que também não atendeu. Aproveitando a brecha, já que não ia dar para ligar de novo, liguei para um grande amigo meu, Márcio. Mais uma vez, nada, por fim liguei para outro grande amigo, o Bordoni e quando seu pai atendeu perguntei por onde ele andava, que estava ligando para todo mundo e que não encontrava ninguém em casa.

A resposta não foi bem aquela que eu esperava. O pai dele me disse que ele estava no hospital com sua noiva visitando o Márcio. Havia sido descoberto um tumor no cérebro e que ele havia sido desenganado pelos médicos, disse ainda mais, que parecia que daquele dia não passava.

A notícia caiu como uma bomba, nunca havia trabalhado a idéia, ou talvez materializado, que podemos nunca mais ver uma pessoa, dar um forte abraço, sair para tomar um chopp, de rir das nossas investidas mal sucedidas, desabafar sobre terminos de namoro, de uma palavra amiga, de um puxão de orelhas ou compartilhar a existência e a importância em nossas vidas. Pela primeira vez de fato senti o que é a sensação de perda, de não ter mais aquelas pessoas ao seu lado (mesmo que ao seu lado seja através de um email ou pelo skype), com quem você pode e que quer contar.

Márcio passou pela operação e foi um sucesso, a recuperação superou até as expectativas dos médicos e não deixou sequelas. Dias depois já no quarto do hospital em recuperação liguei para ele e falei : " Seu sacana, você quase me mata do coração. Da próxima vez, quando for morrer pelo menos me avisa uma semana antes" , do outro lado uma risada prolongada e o complemento dele : " Pô Marcelo, estou com um tubo no nariz, não posso rir, não faz isso.".

Por isso digo que devemos ser amigos dos nossos amigos e sempre que possível demonstrar isso. Nem o tempo , nem a distância, pode minar nossas amizades, só não podemos nos acomodar com elas e procurar sempre vivificá-las dentro de nós.


Como diria o Cidade Negra

"bendito
encontro
na vida
amigo

é tão forte quanto o vento quando sopra
tronco forte que não quebra, não entorta
podes crer, podes crer,eu tô falando de amizade. "

Ou como diz um ditado que aprendi : " Amigo é aquele que chega quando todo mundo foi embora."

Dedicado a todos os meus amigos que estiveram e ainda estão ao meu lado.

Obrigado por ontem , hoje e sempre.

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