segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Play it Again, Sam

Bom, me disseram que escrever um blog exige disciplina e concordo. Entretanto, muitas vezes as demoras são muito mais frutos de dificuldades pontuais do que preguiça, esquecimento ou perda de interesse.

Tenho algumas histórias na minha cabeça quase todas prontas para irem para o papel mas até para manter-me sempre forçado a sentar na frente da máquina e criar, vou escrevendo aos poucos e não tudo de uma vez.

Maria Luiza foi o meu grande amor da juventude. Mais conhecida como Malu, irmã do meio de uma amiga minha de colégio, a Bebel, foi a mulher para a qual eu mais escrevi versos, ao todo 14 poesias. Ao contrário do que se possa pensar, na juventude jamais tive este amor correspondido, seriam necessários mais 14 anos para que fosse correspondido.

Conheci Malu na festa de aniversário da Bebel e de cara gostei dela. Apaixonada por Michael Jackson, este foi meu pretexto para passar a noite toda conversando com ela. Ela é uma mulher muito bonita, baixinha (deve ter por volta de 1,58m) , cabelos negros, olhos azuis, sorriso de anúncio de pasta de dente e para completar eleita na oitava série a mulher mais bonita do Colégio Pedro II.

Apesar disso tudo posso dizer hoje que entendo porque ela não se interessou de imediato por mim. Demonstrações desbalanceadas de interesse sempre geram esse fenômeno e nós, seres humanos, sempre escolhemos o caminho mais difícil ou o mais misterioso e/ou desafiador.

Como eu não era desafiador, meu colega de turma Alexandre veio a ser namorado dela por muitos anos. Em parte em razão deste namoro nossa amizade se estremeceu mas não posso dizer que ele não tenha sido um amigo leal e integro, muito pelo contrário. No dia em que começaram a namorar, na festa de 15 anos da Malu, Alexandre me acompanhou até o carro e me questionou sobre namorar ou não com ela e respondi que se ela o havia escolhido, que fosse em frente. Amor não se escolhe, ele nos escolhe, e está aí o grande truque do amor.

Muitos anos depois quando a idéia de ficar com ela nem mais existia na minha cabeça, a encontrei em uma festa de aniversário com sua família. Ela veio em minha direção com uma vivacidade e alegria que confesso me surpreenderam. Em anos, nunca havia visto uma demonstração de euforia assim por parte dela. Ela me pegou pela mão e me tirou da roda de amigos em que me encontrava e foi me mostrar para sua mãe. Durante toda a festa ficamos conversando e atualizando nossas vidas.

Notei que algo estava diferente ainda que sua beleza e sorriso permanecessem inabaláveis com o passar dos anos. Finalmente ela me comentou que havia sido acometida de um tumor que lhe havia deixado marcas, visíveis (uma cicatriz) e, devido ao tratamento, outras não aparentes. Trocamos contato sem com isso afirmar ou designar algum tipo de encontro.

Tempos depois, liguei para ela e marcamos um chopp no Baixo Gávea. Quando chegamos lá, nos sentamos e mantivemos um longo papo, afinal mais de 14 anos representa um hiato significativo na vida da gente. Em certo ponto, inevitavelmente, ela comentou como era ela bonita e que a enfermidade que lhe havia acometido tinha tirado o viço de outrora, que a cicatriz havia retirado parte da beleza que ao longo de sua adolescencia lhe acompanhava.

Como se fosse o mesmo menino que com 16 anos havia se apaixonado por ela, eu disse – supostamente parafraseando Clint Eastwood em Os Imperdoáveis – “Todos nós temos marcas, uns por dentro e outros por fora “. O fato é, revendo o filme, esta frase simplesmente não existe, foi uma criação minha e não uma citação. Seja como for culminou em um beijo e num período em que ficamos juntos.

Daí o título deste texto Play it Again, Sam, frase que não existe no filme Casablanca e que ao mesmo tempo ficou imortalizada. Poderia apresentar todos os poemas que fiz para ela, mas segue abaixo o derradeiro e que imortalizou para mim este momento. Vamos ver se me sai bem, é um acróstico.


Meus medos e meus desejos
São como antiteses do meu ser
Sentimentos puros e antigos
Guardados num livro de memórias dentro do meu coração

As cicatrizes que trago em meu peito.
Aquelas que só eu vejo e conheço
São como marcas num velho carvalho, juras de apaixonados
Promessas do que está por vir.

Longe vai meu pensamento
E o tempo torna em homem o menino.
Transformando sonhos em realidade.

Unindo o que foi separado pelo hiato do tempo
Apontando o rumo certo, esperado reencontro, ainda que por breves momentos.
Suspensos no tempo, intensamente vivos dentro do meu ser.

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