O ser humano é capaz de toda sorte de criatividade apenas para não reconhecer sua ignorância ou apenas para demonstrar superioridade. Entretanto, para obter sucesso no seu intento, não somente é necessário credibilidade (ou uma bela cara de pau), como também presumir que o tema decantando é de desconhecimento quase geral.
Idos de 1988 (caramba, só tiro estas do fundo do baú) , me preparava para o vestibular no Colégio Princesa Isabel em botafogo no Rio de Janeiro. Tinhamos um colega de turma cujo apelido era “Mariposa” (também com um apelido desses esperar o quê?) que se dizia especialista em todas as áreas de conhecimento, desde psicologia até ufologia ( o cara era o cara). Não havia um assunto sequer que o homem não dominasse, conhecesse, estudasse ou tivesse ido a um congresso.
Mariposa se achava “o cara”, um belo dia porém, durante uma destas aulas de correção de exercícios de vestibulares anteriores , eu e alguns amigos de turma tivemos a brilhante idéia de montar a solução de um exercício conhecido, inventando uma teoria.
Bom, demorou um pouco a descobrimos o melhor momento mas um belo dia, numa aula de física me veio a brilhante inspiração. O professor passou alguns exercícios para serem resolvidos e apresentados depois do intervalo ( esta disciplina ocupava dois horários) e portanto o primeiro horário servia para praticarmos e o segundo para a correção.
O exercício era um clássico , um cubo com resistência de 1 Ω em cada aresta e que tinhamos de fornecer a resistência final entre os pontos A e B. Solução conhecida, inclusive porque existia o gabarito no final do livro, bastava agora criar a solução detalhada do enigma, usando uma teoria plausível cujo nome soasse familiar ao Mariposa.
Daí o nascimento da brilhante teoria, a Teoria de Volkmann, baseada numa aula de biologia que tivemos uns dois dias antes e que certamente ao menos estaria na “vaga” lembrança de nosso intrépido gênio. Apenas uma breve explicação : Canais de Volkmann são canais microscópicos encontrados no osso compacto, são perpendiculares aos Canais de Haversian (Como é que é? hehehe).
Para aprimorar criei um nome pomposo, Ivan Louis Henri Isaac Volkmann (Ivan = Tenista Ivan Lendl, Louis = Cantor Louis Armstrong , Henri = Pintor Henri Matisse, Isaac = Físico Isaac Newton, Volkmann = Já explicado), porque todo inventor de algo tem um destes nomes. Além do nome imponente, a teoria também era um primor, cheia de passos complicados, simplificações genias e encerrada com a frase: Aplicando-se, por fim, os critérios de simplificação da Teoria de Volkmann, o valor da resistência é X. CQD (como queriamos demonstrar).
Antes de sairmos para o intervalo, Mariposa como sempre fazia me perguntou : “E aí, rapaz? Resolveu o problema do cubo?” . Sem pestanejar disse que sim e perguntei se ele queria dar uma olhada, uma vez que ele me disse que não tinha conseguido resolver. Nosso “mestre” pediu para ver e caso percebesse alguma simplificação na solução nos daria a sua contribuição enquanto aproveitavamos o intervalo.
Apostas feitas por todos, ainda existia em alguns colegas a esperança que ele fosse reconhecer que não conhecia a solução e muito menos a teoria. Mas felizmente, a humanidade não permite que pessoas vaidosas e pedantes tenham lampejos de humildade.
Voltando do intervalo, nosso amigo se aproxima e comenta: “Rapaz que solução excelente, diria até brilhante (Mariposa era um tremendo puxa-saco), não tem nem o que simplificar, está de parabéns”. Ato reflexo eu pergunto: Mas e aí Mariposa? Você conhecia a teoria ? Em seguida, após segundos de suspense, a resposta que valeu a aposta e ainda rende muitos risos em mesas de chopp:
Rapaz, eu conhecia a teoria, só não sabia que era de Volkmann.....
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