sábado, 17 de março de 2012

Calm inside the Storm

"
Medo de fechar a cara, medo de encarar
Medo de calar a boca, medo de escutar
Medo de passar a perna, medo de cair
Medo de fazer de conta, medo de dormir
Medo de se arrepender, medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez

Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo... que dá medo do medo que dá
Miedo... que da miedo del miedo que da" Miedo - Lenine feat Julieta Venegas

Uma professora de redação, Marluce, me disse quando cursava a a primeira série do segundo grau (acho que nem existe mais isso): " Vale mais a pena ficar vermelho um minuto, do que amarelo a vida inteira".

Gostaria de contextualizar esta frase e meu momento de vida. Estava no colégio e minha professora, esta da frase, não gostava de mim. Havíamos discutido sobre um trabalho de poesia que havia feito e que ela presumiu que eu copiei e não fiz, ou seja, me chamou de desonesto por não usar um texto original e meu. Na época, este tema foi levado a um conselho e uma vez que este sabia da minha verve poética, deu a nota mais alta e não preciso dizer que isto criou um clima de animosidade entre nós.

Não vou tecer detalhes se eu me portei da forma mais madura ou não, afinal eu tinha apenas 15 anos na época, mas posso dizer que as coisas não ocorreram da forma mais "siciliana" possível. Anos mais tarde iria aprender como lidar melhor com situações como essa, descobrindo, é claro, a escolher quais batalhas valem a pena ou não lutar e vencer; mas com os hormônios aflorados, certamente era improvável agir da forma mais ponderada.

No momento em que ouvi a frase que mencionei no primeiro parágrafo, retomei meu lugar na história e recuperei a aceitação e aprovação de minha professora. Ocorreu na sala um incidente em que me posicionei  e ao final da aula, ao me pedir para ficar por último na sala, ouvi o provérbio que jamais esqueci e carrego ao longo da vida comigo.

Não vou dizer que não sinto medo, eu sinto. Confesso até que é mais prudente, apesar de todo espiríto empreendedor, que tenhamos a cautela necessária para analisar as decisões e ações que tomamos na vida antes de agir. Tudo que fazemos ou deixamos de fazer afeta a nossa vida e a daqueles que nos rodeiam e acho que seriamos egoístas e imprudentes se não avaliassemos a extensão de nossas escolhas. Mas percebam, há uma diferença entre prudência/ponderação e covardia.

Veja, vocês gostariam de saber qual meu maior medo? Olhar para trás e ver que não vivi. Perguntaram para mim esta semana se sempre fui espiritualizado e com a percepção das coisas que eu tenho. Notem, eu estou longe de ser perfeito e plenamente evoluído ou eu não estaria aqui, mas eu acredito que a gente é composto pelas marcas na areia que deixamos e eu gosto, como já disse em post anterior, de me lembrar de cada uma delas.

Não posso dizer que me orgulhe de tudo que fiz, não me orgulho, mas sei que aprendi com cada uma das lições que a vida me impôs a ponto de afirmar que se eu morresse hoje (calma, calma, vocês ainda vão me aturar por muito tempo, hehehehe) não traria arrependimentos da vida que eu levei. Faltam-me filhos, eu sei,  mas ainda assim sinto que multipliquei, mesmo que de outras formas, parte do que eu sou.

Me perguntaram se é covardia ou fraqueza, sentir medo. Não, não é.Não enfrentar os próprios medos é que é. Escolhi novamente a música do Lenine porque eu acho-a extremamente pertinente e além do mais muito próxima, de como eu enxergo o que é sentir medo. "Medo de se achar sozinho, de perder a rédea, a pose e o prumo, Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo"

Rumo e calma, este é o enfoque. O medo não deve nos paralisar, não nunca, e por mais paradoxal que seja, deve ser o catalizador para um novo futuro, um novo amanhã, do desejo de superar os obstáculos e da fazer algo ainda melhor. E o mais importante é saber que mesmo nos momentos das maiores incertezas, sempre haverá alguém para segurar nossa mão e nos acompanhar ao longo do caminho.

"
the calm inside a storm
love me a little, love me long
Don't you know
you should be holding me
but you're locked inside
why don't you throw me your keys ?
" Calm Inside the Storm - Cindy Lauper

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